Desabafo

O tempo nunca volta. Por isso, às vezes as pessoas se entristessem ao lembrar do passado. Foi o que aconteceu comigo hoje, fiquei triste pensando na minha infância.
Tantas coisas que, se pudesse, eu voltaria para fazer de novo, mas de um jeito completamente diferente. E muitas eu apagaria da minha memória. Há coisas
que eu simplesmente não poderia ter evitado, coisas que nenhuma criança poderia ter evitado, por mais precoce que fosse.
São essas as que mais machucam, quando me lembro exatamente da agonia que eu sentia em não poder me defender como gostaria. Como deveria.
Testemunho minha priminha passando pela mesma situação por qual passei (sim, infelizmente, algumas crianças precisam lidar com problemas bem sérios, até
mais tensos do que muitos ditos 'adultos'). Foi quando me enxerguei nela, e chorei. A pior sensação do mundo é a impotência. Não poder fazer nada pelo outro, ou por mim mesma. E esta sensação é ainda pior quando se trata do passado.
Minha cunhada me aconselhou a ver as dificuldades por que passei como provações. Provações que eu consegui superar. E eu sei que ela está certa, este é m conselho que eu já dei muitas vezes a outras pessoas. Mas às vezes é tão difícil. Às vezes, sinto como se não tivesse força interna suficiente para controlar meus sentimentos, ou meus pensamentos. Às vezes reprimimos tanto os sentimentos que chega uma hora em que é impossível não deixá-los transbordar.
Foi então que chorei mais, como fazia tempo não chorava. Chorei como quando criança, não me esforcei mais para esconder meu lado triste, como passei a vida inteira fazendo.
Não que eu nunca tenha tido momentos verdadeiramente felizes, não. Especialmente nestes últimos quatro anos, experimentei pela primeira vez a sensação de felicidade. Felicidade VERDADEIRA. Ser feliz sem precisar de um motivo específico. Ser feliz por tudo o que sou e vivo. Ser feliz por saber quem eu sou e, o mais importante.. gostar disso.
Mas, muitas vezes, me escondo atrás de uma máscara. Por fora, pareço a pessoa mais alegre do mundo, mas só por fora. Muitas pessoas acham que me conhecem
demais, me julgam infantil, tonta, fútil. Mas a cada dia acredito mais que ninguém me conhece de verdade. Nem eu mesma. Ninguém nunca me viu chorar por um
motivo realmente relevante. Nunca ninguém ouviu o que eu tenho a dizer, aquilo que tanto me sufoca por dentro. Mas não culpo ninguém por isso. Essa é a personalidade que u mostro para as pessoas. Às vezes gosto que as pessoas me considerem ingênua e frágil. Talvez me sinta protegida, não sei. Mas sei que, por dentro, sou muito
forte. Caso contrário, não estaria em pé ainda.
Mas, o que aconteceu hoje.. de início eu senti muita raiva de mim mesma. Odeio que as pessoas tenham dó de mim. Odeio muito mais quando sinto auto-piedade.
Me senti fraca por não ter suportado um minuto mais. Mas, depois... quando meus sentimentos acalmaram, percebi o que realmente estava sentindo. Alívio.
Quando parei para refletir sobre o que tinha acabado de acontecer, já em casa, percebi que foi uma coisa boa. Comecei a tirar minhas conclusões, o que só
faço depois que tudo se acalma. Percebi que tirei um peso de dentro. Um peso antigo, que carrego desde o dia em que decidi que PRECISAVA ser feliz e, se não
conseguisse, pelo menos fingiria.
Cheguei a conclusão de que ninguém tem a obrigação de ser feliz. Felicidade não é uma coisa que se cria ou que se busca, mas que vem de dentro. Percebi que
em todos os momentos em que fui feliz de verdade, eu não estava procurando por isso. Foram momentos em que, simplesmente, aconteceu.
Percebi que sou feliz. Sou feliz, especialmente, por saber que eu posso ser e viver tudo o que eu quiser agora e daqui pra frente. O tempo nunca volta.
E nem precisa voltar. Eu não quero mais que volte. Quero mais é aproveitar minha nova vida, nesta nova fase. Tudo de bom que vivi, SEMPRE vai me acompanhar, pois são parte de mim hoje. Me tornaram o que sou hoje. E dos momentos ruins, bom, a única coisa que vou levar comigo é a certeza de que
nada é impossível de se superar. Agora vivo esta nova fase, esta nova vida. Livre e aliviada por não ter mais nada me prendendo. Nem as lembranças.



obs: Eu ainda tenho um pouco de dificuldade de falar sobre meus sentimentos, mas resolvi arriscar. Afinal, ultimamente estou percebendo que se abrir um pouco não é tão ruim assim. Com amor, Bia.