domingo, 29 de abril de 2012

Uma coisa que vem me incomodando

Uma coisa que tem me incomodado ultimamente são assuntos relacionados a religião. Mas não estou nem falando das pessoas que ficam falando aloucamente sobre Deus ou querendo converter todo mundo, o que anda me irritando mesmo são umas coisas que um amigo meu que não acredita em Deus anda falando.

Já deixo claro que não tenho nada contra ateus ou pessoas de qualquer religião. Muito pelo contrário, eu sou totalmente aberta a ideias novas e gosto de verdade de conversar sobre crenças em geral (mesmo que - ou talvez até principalmente - se a pessoa acreditar em coisas em que não acredito). Tanto que cada uma de minhas melhores amigas mais antigas seguem uma religião diferente:

Marianta: católica
Fran: evangélica
Lê: testemunha de Jeová

E sempre nos demos muuito bem uma com a outra. Aliás, eu gostava de falar sobre religião com a Lê e a Fran (assim como muita gente se queixa sobre "evangélicos e testemunhas de Geová serem fechados/fanáticos", imagino que elas não gostavam de conversar sobre religião com católicos ou espíritas, por exemplo, porque os mesmos também já vinham com ideias preconceituosas). E eu... bom, eu acho que não tenho uma religião definida. Minha noção de Deus ou das leis que regem a vida ou "do que vem depois" é meio que um apanhado das coisas que fui conhecendo ao longo da vida e fazendo mais sentido pra mim. Mas talvez o que mais me influencie seja o espiritismo. Só não me denomino espírita porque também tem coisas afirmadas pelo espiritismo em que não acredito.

Ok, feita essa observação, voltemos ao assunto em questão. Esse meu amigo não acredita em Deus, mas não é ateu, já que curte religiões pagãs em geral... ele só não é cristão. E eu adoro conversar com ele sobre deuses e rituais e demais coisas em que ela acredita, acho uma troca legal. Mas ultimamente tenho percebido que ele é bem hipócrita nesse sentido e isso começou a me irritar.

Por exemplo, ele compartilhou hoje no facebook este texto:

"Se as pessoas se preocupassem menos com o que seria a vontade de um ser místico, ou em como agradá-lo ou em como ele é poderoso, sábio, magnânimo...
Se as pessoas esquecessem esse deus e voltassem seus olhos para outros humanos e se preocupassem em ajudar, apoiar e em construir juntos um presente e futuro melhores...
Se a existência do ser humano fosse mais importante do que a ideia da divindade... Imagine como seria."

*atrás do texto uma linda imagem de crianças felizes e saltitantes*

Primeiro: concordo que existe muita gente bitolada por aí que de tanto querer ser um exemplo de santidade no mundo acaba esquecendo do que realmente importa (esquece-se muitas vezes dos valores pregados pela própria religião que segue) e que até comete atrocidades em nome da religião. Mas a "verdade" do texto acaba aí. Desde quando o ato de acreditar em algo mais (seja em Deus ou qualquer outro ser "místico") implica em parar de se preocupar com o ser humano? Como se deixar de acreditar em certa entidade tornasse a pessoa melhor ou mais solidária ou mais consciente. Oi, assim como tem muito beato por aí que tá pouco se fudendo de verdade pro ser humano, tem muito ateu que também tá pouco se fudendo. E assim como tem gente que era alienado quando religioso e se tornou mais consciente depois que se "libertou" de determinada crença louca, tem gente que só conseguiu se encontrar ou entender o valor do próximo quando entendeu o valor de Deus (ou da Deusa, de Jeová, de Alá, de Buda, do Deus-macarrão-voador, que seja).
Eu acho que não é o fato de acreditar ou deixar de acreditar em determinada coisa que molda o caráter da pessoa, mas o quanto ela permite que a nova informação abra as portas para um melhor entendimento dela mesma e do mundo a ponto de mudar suas atitudes (e isso não só pra religião, mas pra qualquer novo conceito que a pessoa deixar entrar na vida dela).

Segundo: Esse meu amigo não é ateu, ele acredita nas entidades dele lá. Ou seja, tudo bem acreditar em seres místicos, desde que não seja no Deus cristão? Tipo aquele povo que gosta de pagar de ateu, mas usa pentagrama invertido no pescoço.
Assim como acho inconveniente e desnecessário que venham à minha casa às 7 horas da manhã pra me convencer do quanto eu estou trilhando meu caminho pro inferno por não seguir determinados valores, acho um saco quando me olham com superioridade ao descobrir que acredito em Deus, como se isso fizesse de mim uma pessoa menos inteligente ou racional.
Assim como não acho que uma pessoa tenha o direito de tacar uma bíblia na cabeça de outra (ou um cruxifixo de chumbo se for o caso) porque a outra não acredita em Deus, também não acho que um ateu tenha o direito de se sentir ofendido porque recebeu um "Deus te crie" ao espirrar.

Terceiro: "Se a existência do ser humano fosse mais importante do que a ideia da divindade..."
E se a noção de que o ser humano é apenas a milésima parte de um todo que compõe o planeta - e o Universo - fosse mais importante do que a ideia de que o homem é o centro de tudo?
Digo isso porque, falando bem por cima, é essa a minha visão de "Deus". O "um todo" que liga todas as coisas (homem, animais, plantas, minerais, etc). Não, não só que liga, mas que engloba, que é. Não enxergo Deus como uma versão do homem elevada à enésima potência de bondade(aliás, considero essa ideia de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus mais uma das nossas besteiras antropocêntricas). Não acho que Deus seja "alguém" que está em algum lugar mexendo os pauzinhos e distribuindo castigos e recompensas e mandando mensagens e decidindo quem vai pro céu ou inferno (aliás, também não acredito em céu e inferno). Isso seria tão... tipicamente humano. Não acho que Deus tenha uma "identidade", mas isso tampouco quer dizer que ele não exista (ou que não seja uma força inteligente - se a inteligência existe, então também faz parte do que chamo de "Deus"). Então para mim não faz sentido que Deus e homem sejam vistos separadamente (o que também não quer dizer que eu ache que um homem tem que dedicar toda sua vida à adoração do tal Deus ou vice-versa). *um dia falo melhor sobre isso*

O que quero dizer com tudo isso, é: é muito fácil afirmar que "oh, como o mundo seria melhor se todos acreditassem nas mesmas coisas que eu!" e sair por aí se sentindo discriminado e no direito de ofender qualquer um que pense diferente. Agora, abrir um pouco a mente e deixar de transformar opinião em barreira (ou escudo) é difícil, né?

Um comentário:

  1. Concordo com algumas coisas flor, eu sou evangélica, já fui católica, mas mudei, e me senti bem assim :)
    Em fim, claro que tem gente abitolada, gente abitolada eu chamo de RELIGIOSA, porque acredito que religião não tem nada a ver com os propositos de Deus, Deus não criou a religião, quem criou foi o ser humano, e tudo que o ser humano faz é digno de falhas concorda?
    Em fim, a unica coisa perfeita que existe é Deus e sua palavra (Biblia) A biblia foi escrita pelo homem, mas com inspiração por Deus, então também é perfeita. Acredito nisso, vou a igreja porque gosto, e me sinto bem. O Homem não precisa de religião, precisa de Deus, a igreja é um local de reflexão e adoração, mas muitos fazem dela a casa da mãe joana. As questões espirituais são complicadas de entender, mas é muito legal estudar sobre isso, muitas igrejas não falam da questão espiritual mais profundamente, e muitas vezes quem quer conhecer procura o espiritismo oque não tem relacionamento com Deus. Em fim, é oque eu penso ^^

    Gostei do texto flor, bjo!

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