terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Fantasma do Banheiro - Parte II

 
primeira parte no post anterior ;)

               Ágata tinha soltado e penteado os cabelos para ficar mais bonita.  Deu uma última polida nos óculos e saiu do banheiro para encontrar Nando no pátio, como combinado. Não sem antes enfiar nos bolsos um pedaço de papel que pretendia entregar a ele no momento certo caso as palavras fugissem. Encontrou o amigo ajeitando as meias simetricamente.

                - Nando?

                - Ágata! Ágata? Você está... - por um momento fantasiou com o garoto dizendo que estava linda. - ... estranha. O que aconteceu com seu cabelo?

                - Eu soltei. N-Não gostou?

                - Ah, eu gostava das marias-chiquinhas. – fez um gesto vago com as mãos – Mas não vamos perder tempo com futilidades. Tenho muitas coisas para te contar!

                - Tem? – balbuciou, enquanto tentava acompanhar os passos largos do garoto ao mesmo tempo em que prendia os cabelos em seu penteado habitual.

                - Eu andei pensando muito sobre o baile, sabe? Quero estar estonteante na grande noite! Mais estonteante, quero dizer. E, para isso, preciso de uma parceira igualmente maravilhosa!

                - P-Precisa?

                - Sim, mas você deve saber que não é uma tarefa fácil encontrar garotas à minha altura, não é?

                - Claro, e como sei!

                - Mas eu conheço uma garota muito especial. – parou de caminhar, virando-se para encarar a menina – A garota com quem eu quero passar minha última noite na escola!

                Encararam-se, em silêncio. Ágata nunca vira os olhos de Nando com tanto brilho. Seu coração batia depressa.

                - Você sabe quem é essa garota, não sabe, Ágata?

                - A-Acho que sim.

                - Perfeito! Pois eu vou precisar da sua ajuda para falar com ela! Doroteia Torres! Você a conhece, não?

Por um momento o mundo parou. Ágata sentiu como se todo o ar do planeta houvesse se dissipado junto com os pedaços de seus sentimentos.

                - Você pode fazer isso por mim, querida? Fazer com que Doroteia saiba que eu quero ir ao baile com ela?

                Nando esticou o braço para brincar com suas maria-chiquinhas, mas Ágata retirou sua mão com um tapa. Por um segundo, registrou o espanto no semblante do garoto, antes de sair correndo para o banheiro.

                - Mas o que é que deu nela?

                Confuso, dirigiu-se para a portaria da escola, mas não saiu. Achou melhor esperar a garota voltar, talvez ainda pudesse convencê-la a falar com Doroteia. Recostou-se na parede e se pôs a pentear os cabelos.

                Quando já estava cansado de esperar, ouviu passos no corredor. Mas não era Ágata, e sim uma leva de alunos que corriam, desesperados. Por fim, ouviu tiros e gritos. A escola estava sendo invadida. Juntou-se à multidão de alunos e deixou o colégio, tão rápido quanto suas pernas lhe permitiam.

. . . 

                Na manhã seguinte, Nando não foi à escola. Todos os noticiários falavam sobre o atentado ao Colégio Vladmir Feitosa. Nando estranhou o fato de Ágata ainda não ter ligado, já que ela costumava telefonar todos os dias para desabafar sobre alguma futilidade qualquer e, bem quando algo realmente interessante havia acontecido, nada de sinal da garota.

                Ainda estava refletindo sobre o que aquilo poderia querer dizer quando escutou um pedaço de reportagem. Diziam que o corpo de uma aluna do terceiro ano do Vladmir Feitosa havia sido encontrado no banheiro do colégio, àquela manhã.  Não era possível, Ágata?! Nando saiu correndo de seu quarto e bateu a porta da frente ao sair de casa. Quase não notou os cinco quarteirões que percorreu até chegar à escola e passou direto pelos repórteres que cobriam o prédio. Quando viu, estava no banheiro que a garota costumava usar para se esconder. Empurrou a porta com força e nem reparou em como seu reflexo nos espelhos mostrava um garoto pálido e assustado, tão diferente do jovem bonito de outrora.

                - ÁGATA?! – berrou. Passava os dedos pelos cabelos num gesto aflito quando notou um pedaço de papel boiando no piso encharcado. Era a letra dela.

                “Eu amo você.”, dizia.

                O entendimento caiu sobre ele como um balde de água gelada carregada de remorso. Estava se abaixando para recolher o papel quando enxergou o par de sapatos fantasmagóricos por baixo da cabine de um dos sanitários. Sentiu todos os músculos de seu corpo congelarem quando um som terrível e lamurioso tomou conta do banheiro. De algum lugar tirou forças para se por a correr novamente, só parando do lado de fora do colégio.

                Deixou-se cair aos pés de uma árvore enquanto lágrimas involuntárias escorriam por seu rosto fotogênico. Ágata o amava. E estava morta. E era culpa dele. 

continua...

4 comentários:

Oi, queridos! Aqui é seu espaço, podem colocar os pés no sofá.