O
céu estava escuro desde o começo da manhã, mas foi só quando entrei no carro
para ir trabalhar, depois do almoço, que a chuva caiu. Tinha acabado de deixar
a garagem quando as gotas começaram a explodir no para-brisa. As janelas
estavam abertas e o rádio, desligado. A chuva, para minha surpresa, veio forte,
então fechei as janelas e resolvi deixar o rádio mudo, já que não ia conseguir
escutar música com aquele barulho todo.
Lembrei de ligar as luzes, apesar de ser dia, porque
a chuva estava mesmo forte. O caminho era o mesmo e meus movimentos para pisar
nos pedais e alternar a marcha eram automáticos, com a diferença de que agora
precisava dirigir devagar. Começou a ficar difícil para enxergar, pois os
vidros estavam embaçando, mas eu não queria ligar o ar condicionado, porque
estava com frio. Só nessa hora lembrei que não tinha pegado uma blusa e cogitei
voltar, mas não fiz isto porque já estava a mais da metade do caminho.
Estava
ficando impossível ver qualquer coisa e o barulho, ensurdecedor. O trânsito
estava lento porque todos iam para o mesmo lugar. Talvez estivessem indo fazer
as mesmas coisas, só que com nomes e sapatos diferentes. O vidro ficou tão
embaçado que tive medo de provocar um acidente, então liguei a ventilação. Na
mesma hora, o borrão vermelho que era o semáforo ficou verde e um pouco mais
visível. O trânsito ficou mais rápido e os carros, distantes. Fiquei sozinha de
novo, se é que já não o estava. Então, uma coisa aconteceu.
Por algum motivo, ou talvez por motivo algum,
retornei o botão que tinha acabado de girar para sua posição normal. Em
seguida, abaixei os vidros e liguei o rádio, deixando o volume alto o
suficiente para que eu conseguisse ouvir. O carro estava encharcando por
dentro, mas eu podia sentir a chuva no meu rosto, então não liguei. A música
falava de flores desabrochando e dias ensolarados e eu nunca tinha sentido que
uma música combinava tanto com o momento como naquele momento. O céu não estava
claro e azul, da forma que eu amava, mas eu também não me importei, porque
minhas nuvens brancas – agora não tão brancas – estavam se desfazendo para me
encontrar ali embaixo.
Foi
então que percebi que não é porque o tempo estava feio que o céu não podia ser
bonito. Não é porque estava que não havia sido ou não viria a ser. Então,
finalmente, eu não estava. Eu era. E era o suficiente.
Eu já disse que amo os seus textos?? Eu amo os seus textos! Quero escrever assim quando eu crescer!!
ResponderExcluirBeijinhos!
Am
http://www.vinteepoucos.com.br/
Tu escreve muito bem, parabéns. Amei esse texto.
ResponderExcluirxoxo Thay
http://www.chovendoalgodaodoce.com
Puxa, obrigada, Am! Ouvir isso de vc q é uma blogueira q eu sempre acompanho é muito bom! :D
ResponderExcluirThaynara, obrigada!
"Talvez estivessem indo fazer as mesmas coisas, só que com nomes e sapatos diferentes." hdiusahdsiuadha adorei!
ResponderExcluirO lado criativo da família ficou todo por sua conta. Que texto mais lindo! E é tão a sua cara <3
Lindo, mais uma vez! Eu mesma gosto de céus chuvosos. A melancolia pode ser bela...
ResponderExcluirAté parece que você também não herdou criatividade, dona Lullaby ASHUASHUASHU Obrigada *-*
ResponderExcluirObrigada, mais uma vez, Mari! *-* Com certeza. E dias chuvosos me deixam muito inspirada!