terça-feira, 13 de novembro de 2012

Estava



            O céu estava escuro desde o começo da manhã, mas foi só quando entrei no carro para ir trabalhar, depois do almoço, que a chuva caiu. Tinha acabado de deixar a garagem quando as gotas começaram a explodir no para-brisa. As janelas estavam abertas e o rádio, desligado. A chuva, para minha surpresa, veio forte, então fechei as janelas e resolvi deixar o rádio mudo, já que não ia conseguir escutar música com aquele barulho todo.

             Lembrei de ligar as luzes, apesar de ser dia, porque a chuva estava mesmo forte. O caminho era o mesmo e meus movimentos para pisar nos pedais e alternar a marcha eram automáticos, com a diferença de que agora precisava dirigir devagar. Começou a ficar difícil para enxergar, pois os vidros estavam embaçando, mas eu não queria ligar o ar condicionado, porque estava com frio. Só nessa hora lembrei que não tinha pegado uma blusa e cogitei voltar, mas não fiz isto porque já estava a mais da metade do caminho.

            Estava ficando impossível ver qualquer coisa e o barulho, ensurdecedor. O trânsito estava lento porque todos iam para o mesmo lugar. Talvez estivessem indo fazer as mesmas coisas, só que com nomes e sapatos diferentes. O vidro ficou tão embaçado que tive medo de provocar um acidente, então liguei a ventilação. Na mesma hora, o borrão vermelho que era o semáforo ficou verde e um pouco mais visível. O trânsito ficou mais rápido e os carros, distantes. Fiquei sozinha de novo, se é que já não o estava. Então, uma coisa aconteceu.

             Por algum motivo, ou talvez por motivo algum, retornei o botão que tinha acabado de girar para sua posição normal. Em seguida, abaixei os vidros e liguei o rádio, deixando o volume alto o suficiente para que eu conseguisse ouvir. O carro estava encharcando por dentro, mas eu podia sentir a chuva no meu rosto, então não liguei. A música falava de flores desabrochando e dias ensolarados e eu nunca tinha sentido que uma música combinava tanto com o momento como naquele momento. O céu não estava claro e azul, da forma que eu amava, mas eu também não me importei, porque minhas nuvens brancas – agora não tão brancas – estavam se desfazendo para me encontrar ali embaixo.

            Foi então que percebi que não é porque o tempo estava feio que o céu não podia ser bonito. Não é porque estava que não havia sido ou não viria a ser. Então, finalmente, eu não estava. Eu era. E era o suficiente.


6 comentários:

  1. Eu já disse que amo os seus textos?? Eu amo os seus textos! Quero escrever assim quando eu crescer!!
    Beijinhos!

    Am
    http://www.vinteepoucos.com.br/

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  2. Tu escreve muito bem, parabéns. Amei esse texto.

    xoxo Thay
    http://www.chovendoalgodaodoce.com

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  3. Puxa, obrigada, Am! Ouvir isso de vc q é uma blogueira q eu sempre acompanho é muito bom! :D

    Thaynara, obrigada!

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  4. "Talvez estivessem indo fazer as mesmas coisas, só que com nomes e sapatos diferentes." hdiusahdsiuadha adorei!
    O lado criativo da família ficou todo por sua conta. Que texto mais lindo! E é tão a sua cara <3

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  5. Lindo, mais uma vez! Eu mesma gosto de céus chuvosos. A melancolia pode ser bela...

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  6. Até parece que você também não herdou criatividade, dona Lullaby ASHUASHUASHU Obrigada *-*

    Obrigada, mais uma vez, Mari! *-* Com certeza. E dias chuvosos me deixam muito inspirada!

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Oi, queridos! Aqui é seu espaço, podem colocar os pés no sofá.