quinta-feira, 21 de abril de 2016

Queria muito ressucitar isso aqui e começar a fazer algumas coisas que eu realmente queira fazer, para variar





Bem jogado, no impulso, porque cansei de me distanciar dos meus objetivos por planejar demais ou pensar demais e no fim acabar percebendo que nunca cheguei a saber o que realmente queria.

Ouvindo músicas que não ouvia faz, no mínimo, sete anos. Que se não para me lembrar de coisas ruins, que me lembrassem que tenho motivos para me sentir aliviada.

Só que não estou me sentindo aliviada. Estou me sentindo... como sempre me sinto de tempos em tempos, como acho que não vou mais me sentir porque é o que sinto antes das grandes mudanças. Das mudanças que se tornam primeiro lembranças e depois percepções do que nunca serão.

Sabe, eu não comecei a escrever isso aqui para deixar as metáforas me levarem ainda mais longe do cerne dos meus pensamentos. Nem para parecer uma pedante dos infernos usando a expressão "cerne dos meus pensamentos".

Eu abri outra pasta de músicas porque "minhas composições" me chamou a atenção. Eu não tenho composições.

Ainda é difícil olhar para dentro. A possibilidade de nunca ser capaz de me fazer feliz assusta mais que o prenúncio do caminho a percorrer. Porque eu sei que canso fácil. Talvez me falte preparação física, fôlego, destreza, jogo de cintura, segurança na criação, experiência, maturidade, sorte, fé. O problema é que não poderia me importar menos com o que me falta. O que me assombra é o que eu tenho de sobra e me sobra e me é inútil e vai me doer jogar fora. E eu tenho medo de não restar nada além de uma gigantesca propensão ao desperdício.

Metáforas, metáforas, blablabla. Dentro da pasta, quatro arquivos: "dentro de alguém", "dentro de mim", "dentro de mim 2" e "qualquer coisa". Estou ouvindo em looping o arquivo "dentro de alguém.wma". Sim, sou eu tocando. É estranho.
 
Vamos ser objetivos. Ou não, porque talvez eu realmente não consiga. Mas o serzinho x, vamos falar dele. Vinte e seis anos, mesma faculdade e academia que eu, estivemos nos mesmo show de rock e stand-up de comédia ano passado, sem saber. Grande coisa, moramos na mesma cidade interiorana, afinal de contas. Situações escrotas dignas de comédia romântica das piores, em que os protagonistas são rasos feito facas e pessoas como eu assistem, indignadas, sentindo-se peixes fora d'água na plateia. "Eles não tem um motivo sequer para se apaixonarem!". "É só sexo!" Antes fosse. Em vez de me sentir mais conectada ao mundo dos adultos do qual tanto almejo fazer parte, me sinto mais adolescente do que nunca. No pior dos sentidos. Minha adolescência nunca foi lá grandes coisas mesmo. Um mar de vontades e desejos que não me deram repertório para almejar ou sequer compreender, preenchendo de vazio meu coraçãozinho de gelo. O vazio gelado daquilo que já não te pertencia quando te ensinaram a cobrar.

Penso se um dia vou abrir mão das minhas fantasias de ver o mundo com olhos de fora, como se eu mesma fosse uma extraterrestre ao mesmo tempo fascinada e apavorada pelas loucuras mundanas. Se um dia vou admitir que é mais real que fantasia. Se um dia vou parar de cantar vitória por não ter medo de machucar sentimentos alheios só porque não consigo admitir o terror que sinto de que machuquem os meus.

Às vezes fico pensando se o que tive foi azar por não ter amigos que me arrastassem pro mau caminho, ou pra qualquer caminho, já que juízo de valor nunca fez muito sentido por aqui. Mas acho que não, sempre pareceu dar bastante certo pra todo mundo ao meu redor. Talvez tenha parecido que deu bastante certo pra mim também.

Eu queria me apaixonar pelo menos uma vez. Assim, de verdade, por alguém palpável. Que não fosse uma obsessão ridícula. Queria ter pelo menos uma chance de chegar no futuro e perceber que não foi tudo uma ilusão de menina tonta.

Queria ter sentido qualquer coisa na minha primeira vez. E na segunda. E na terceira. Queria que tivesse passado algo pela minha cabeça mais próximo de "ok, não fique ansiosa, curta o momento" do que "...será que algum dia existiram SENTIMENTOS dentro de mim???".

E hoje, finalmente, depois de tanto tempo que eu não soube classificar como apatia ou paz de espírito, me senti triste. Uma tristeza meio sem sentido ou contexto, vontade de chorar até, que foi o que mais me impressionou. Faz pelo menos uns sete anos que só choro projetando o que acredito ser tristeza nas histórias que narro para mim mesma de madrugada. Mas dessa vez fiquei esperançosa, talvez seja algo visceral, autêntico, sincero. Pelo menos uma vez na vida.

Foi quando eu percebi.
 
"Me dá um Postinor."
"Um o quê? Pode soletrar, por favor?"
"Pê, o, esse, tê, i..."
"Desculpa, não achei aqui no sistema"
"Procura algo composto por levon.. vorno.. levonorgestrel, acho"
"Ok. AH! Se você tivesse falado de outro jeito eu saberia na hora, hehe. Vou buscar"
"Hehe... ok."

E era só uma bomba hormonal.

3 comentários:

  1. "...será que algum dia existiram SENTIMENTOS dentro de mim???"
    Por que tão escondidos, sentimentos?

    Ao ouvir sua música, me SENTI como se estivesse em uma corrida agonizante atrás das notas melancólicas, precisas e necessárias, tentando desesperadamente alcançá-las em uma prateleira muito alta, num daqueles corredores brancos e estreito de lugar nenhum.

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