segunda-feira, 10 de junho de 2019

Déjà-vu

Esse é  um pré-poema
Para você, que finjo conhecer
Para você, cujo reconhecimento já me é mais caro que a desilusão que preconcebo sem saber.

Para ti, que fala diferente,
Que é diferente,
Que sente diferente,
Mas eu quero que perceba em mim sua igual.

Para mim, que repete padrões
Que busca refrões
E conexões perdidas,
Mas na fuga do que é meu volta sempre ao princípio daquilo que não me foi permitido concluir.

Para um não-nós
Que do nosso encontro se preconiza,
Pois de interrupções passadas constituiu-se
Esse desejo latente de fazer diferente, negando o que existe de mais essencial e da gente.

Para um Outro inespecífico
Que não sente falta do outrora
Desfaz laços sem demora
E não tenta resgatar a espontaneidade perdida e própria dos primórdios da infância.

Para o pedaço de mim que me deixou,
Não uma, mas duas, dez, vinte vezes
E vejo agora refletido em você
Que procura tudo, menos uma pessoa incompleta.

Para um tu que nunca foi meu,
Que nunca fui eu,
Mas eu reconheço com a propriedade de quem revisita uma memória longíqua e distorcida.

Para alguém que não conhece minha história
E para quem apresento a versão mais asséptica
Na prolixidade de palavras que compensam a ausência de detalhes em comum.

Para você, que não é passado nem futuro
Fusão de medo e desejo, sonho inseguro
Previsão de outro não-término organizado em pré-palavras não ditas
Com a esperança de nunca se tornarem proféticas, sensatas e malditas.

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