domingo, 23 de agosto de 2020

Desabafos do isolamento social


    Esse é um post de desabafo + tentativa de me fazer presente e dar uma organizada no que tá aqui dentro. 

    Eu acho que estou levando essa história de isolamento até que bem, até por ter vários privilégios que me ajudam a lidar com tudo de uma forma menos estressante. Já estamos no sexto mês (?) de pandemia e posso fazer um resumo de algumas coisas que aconteceram desde então. 

    Tenho aprendido várias receitas novas e percebido o quanto gosto de cozinhar. Sempre fico bem depois de terminar uma receita e finalmente sinto que estou ficando melhor nisso. A minha maior conquista foi finalmente ter aprendido a fazer maçã do amor! O segredo do caramelo é usar um copo dágua pra testar o "barulhinho" do caramelo no ponto.

    Fiz umas entradas no ~journal, imprimindo os "adesivos" e fitas e gostei bastante do resultado, mas resolvi comprar um binder pra continuar fazendo (um mini-fichário transparente, tamanho A6) e enquanto espero chegar, dei uma parada. 

    Também tenho jogado bastante, principalmente em companhia de um amigo. Joguei Stardew Valley, Overcooked 2, Portal 2, Orcs Must Die 2 (não curti muito esse) e praticamente todos os The Sims, principalmente o 1 e o 4. Até gravei alguns pro meu antigo canal no YouTube. Quero organizar um dia para jogar multiplayer com alguns amigos e, se conseguir, registrar em um vídeo. 

    Ah é! Também foi meu aniversário, mais pro meio do isolamento, dia 22/07. Por incrível que pareça, foi um dos melhores aniversários que eu já tive. Eu tenho uma certa dificuldade de organizar comemorações no meu aniversário. Eu sempre tenho vontade de comemorar com meus amigos fazendo algo bacana que eu goste, mas nunca consigo juntar coragem para levar à cabo, pois fico com medo de não dar certo, das pessoas não irem ou irem e ficarem entediadas etc. Dessa vez, como não podia ter convidados, fiz tudo do meu jeito, encomendei um bolo do jeito que eu sempre quis, pedi uns salgadinhos e me arrumei. Comemoramos eu e minha mãe e fiquei muito contente tirando fotos com o meu bolo: 


    Além disso, criei o hábito de tomar sol. Ainda falho em tomar todos os dias, mas tenho tentado. 

    Paralelamente, tenho feito o aprimoramento clínico, atendido, participado dos grupos de estudo e ministrei uma palestra! Fiquei muito orgulhosa dela, tanto da parte estética (fiz toda no site Canva) quanto do conteúdo e da apresentação. Ficou bem completa e fiquei estudando e coletando material desde Janeiro para ela. Apresentei online e bastante pessoas compareceram! Ah, de um desses grupos de estudos que participo, surgiu a oportunidade de organizarmos um Workshop, graças ao espírito de coragem e iniciativa de minhas colegas (adoro me cercar de pessoas assim!). Estamos nos reunindo toda semana para cuidar dos detalhes e ter ideias. A previsão é que aconteça em Outubro, estou bastante empolgada. 

   Além dessas, algumas outras oportunidades bem legais surgiram nesse isolamento, como duas entrevistas (sobre Psicologia) que eu dei para uma revista famosa de cultura pop e minha participação em um documentário! Também recebi o convite de uma amiga arquiteta para fazer uma live para o perfil profissional dela, sobre os efeitos psicológicos do isolamento social e nossa relação com nossas casas. 

    Esse está sendo um dos lados bons disso tudo, as movimentações digitais com ideias bastante empolgantes. Falando nisso, preciso criar logo meu perfil profissional no Instagram. Estou procrastinando bastante pra isso. Quando criar, quero fazer alguns conteúdos de Psicologia para o TikTok também (pois é). No começo do ano eu estava bastante empolgada para criar um canal no YouTube sobre Psicologia, com o objetivo de difundir conhecimento científico, mas acabei dando uma desanimada por dois motivos principais: 1. falta de equipamento, percebi que preciso pelo menos de um microfone melhor e de iluminação. Até encomendei um tripé baratinho, mas está beeem atrasado pra chegar. 2. parece que o Instagram e o TikTok estão sendo mais eficientes para a produção e compartilhamento desse tipo de conteúdo. Mas ainda não descartei totalmente a ideia. Se eu for criar algo para internet, provavelmente usarei essas 3 plataformas. 

    Estou tentando me movimentar mais de forma a manter contato com as pessoas importantes para mim, principalmente agora que só tenho a internet como recurso. Acho que estou ficando melhor nisso. Por outro lado, ainda tenho dificuldades de pensar em atividades diferentes para fazer com a minha mãe, uma vez que ela está sentindo os efeitos do isolamento mais intensamente, acredito eu. Atividades que ela goste, no caso, porque já pensei em várias que ela não curtiu. Minha próxima tentativa vai ser tentar montar um quebra-cabeças de 1000 peças com ela (no passado ela gostava bastante), encomendei e estou esperando chegar. Minha psicóloga sugeriu fazer algo com aquarela, pois mexer com tintas tem um efeito terapêutico muito bom. Vai ser meu plano B. 

    E, por fim, continuo fazendo análise. Eu tinha cogitado parar, no início do ano, mas depois percebi que esse é um dos períodos mais importantes para eu fazer acompanhamento terapêutico (início do meu exercício profissional e, agora, essa pandemia). E, justamente por causa do isolamento e da diminuição do ritmo do cotidiano, estamos conseguindo elaborar questões muito mais profundas e essenciais. 

    No geral, tenho o privilégio de dizer que está sendo um ano bom para mim, apesar da inevitável solidão. Claro que diariamente tenho que lutar para não me deixar imobilizar por todas as coisas horríveis que estão acontecendo, a nível de política, saúde, educação, direitos humanos, tudo. Mas não podemos deixar de nos afetar, inclusive é importante que nos afetemos. 

    Esse período de reflexão e análise me fez chegar em algumas conclusões sobre o que é importante para mim e o que quero incorporar mais ativamente na minha vida nos próximos anos :

1. mais oportunidades de contato e trocas verdadeiras com meus amigos e família. Isso sempre foi essencial para mim, talvez um dos aspectos que considero mais importantes na vida, mas sempre me pego não conseguindo ter relações satisfatórias com as pessoas, como se existisse uma muralha que me separasse delas; 

2. uma atividade criativa fixa para qual possa me dedicar mais e com mais profundidade. Estou sempre me envolvendo com atividades criativas e obtendo satisfação imediata com elas, mas nunca por tempo suficiente a ponto de perceber uma evolução e, principalmente, a ponto de alcançar a elaboração de minhas questões internas. Sinto que é isso que busco com essas atividades mais lúdicas. Sinto falta de como conseguia usar desses instrumentos para essa função específica quando era criança. Eu ficava o dia inteiro desenhando histórias em quadrinho ou escrevendo historinhas para lidar com meus problemas. Quando cresci, aprendi formas mais maduras de fazer isso, mas ainda sinto essa lacuna deixada pela arte como forma de expressão e elaboração. Principalmente algo que me permita contar histórias. 

3. me engajar mais politicamente. Eu procuro atribuir um propósito social e político ao meu trabalho quando planejo atuar com prevenção da saúde mental, especialmente na infância e em escolas municipais. Dei início a esse projeto com o trabalho social que eu fazia na escola antes da pandemia, mas eu pretendo levar mais adiante, fazer meu mestrado em cima disso e encontrar meios de difundir ainda mais essa prática, de maneira cada vez mais acessível. Entretanto, sinto falta já faz alguns anos de me envolver mais em grupos de militância. Em 2013 tive um envolvimento bem intenso, tanto pelo cenário político quanto pelo meu contato com a universidade pública, e hoje sinto falta. 

    É, acho que consegui resumir bem como os últimos seis meses de isolamento social tem sido para mim. Tenho levado as medidas bastante a sério, pois minha prioridade no momento é minha saúde e a da minha mãe, assim como a promoção de saúde no geral. Em alguns dias, como hoje, a solidão bate mais forte, somada a um sentimento de "irrealidade". Ainda mais quando vejo pessoas agindo em negação, vivendo como se nada estivesse acontecendo + tentativas mais explícitas de gaslighting que tenho presenciado. Mas é nesses momentos em que precisamos nos agarrar às evidências e ao que é mais importante no momento, nos compromissos que acordamos conosco mesmos.

    Nas últimas semanas aconteceu uma situação chata que não vou detalhar por aqui por questões éticas. Foi o único acontecimento pessoalmente ruim de 2020, o que é incrível, sinceramente hahaha. Essa situação me colocou em uma posição de precisar questionar princípios éticos e morais que eu possuo e refletir bastante sobre qual decisão tomar para resolver da melhor forma, sem entretanto deixar de sanar algumas injustiças. Estou nesse processo de tomada de decisão. Como sempre, ser forte para chegar à conclusão mais justa é o movimento que me ampara. Mas está sendo difícil, por vezes sinto uma sensação de impotência ao me deparar com o limite alheio, o que é uma das experiências mais humanas mais essenciais. Seja o que eu decidir no final, sei que vai ser o melhor que podia ser feito no momento. 

    Ademais, quero continuar cuidando da minha saúde. Tenho me preocupado com consumo exagerado de açúcar e carboidratos no geral. Por causa da pandemia, parei o acompanhamento nutricional e o crossift. Passei uns 2 meses malhando em casa, mas depois desanimei e não consegui voltar, até por medo de fazer mal pro joelho (o amigo que me acompanhava acabou se machucando). Mas não quero ir a médicos agora, prefiro esperar a vacina. Como sempre, tenho que dar um jeito de comer mais proteínas e legumes, mas minha dificuldade maior é encontrar receitas que eu goste.

    Estou contente por ter conseguido externalizar um pouco o que tem se passado pela minha cabeça. Tenho buscado me fazer mais presente no momento, até pelos meus estudos recentes sobre Mindfulness e terapias comportamentais da terceira onda. Nem sempre é fácil, mas seguimos tentando e recorrendo a todos os métodos que temos à disposição :)

 

 

 

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