“Oh-Oh, hora da saída estratégica.”
Era o que se passava na cabeça do professor Orlando enquanto subia a passos apressados
as escadarias da escola. “Tenho coisas muito mais importantes com o que
me preocupar do que organização de festinhas bregas de escola, não tenho?”
Virou rapidamente o corredor, emparelhando as costas com a parede de cimento.
Ouviu o ressoar dos saltos da diretora Laura ao longe. Barra limpa! Permitiu-se
soltar o ar preso nos pulmões enquanto alisava as vestes engomadas com as mãos.
Talvez fosse melhor dar um tempo até toda a confusão passar. Ah, como aquilo
cansava sua beleza!
Com uma última olhadela conferiu
se o caminho estava livre e dirigiu-se ao fim do corredor, ajeitando os
cabelos. Sempre havia um banheiro ao lado das salas de aula e passar alguns
minutos treinando seu belo sorriso em frente a um espelho era sempre uma boa
ideia. Já estava com a mão na maçaneta do lavabo masculino quando um arrepio
percorreu-lhe a espinha. Em um gesto mecânico tão destoante aos seus padrões
graciosos, virou o pescoço na direção oposta. Ah não, ele reconhecia aquele
banheiro. Era o banheiro da Ágata.
- - -
Era dia de provas finais na
tradicional escola Vladmir Feitosa. O Centro de Convenções repleto de alunos
estava excepcionalmente silencioso. O único ruído era o do arranhar das canetas-tinteiro
no papel. Apesar do tempo destinado à
prova já estar se esgotando, a maior parte dos alunos ainda se encontrava
debruçada sobre as questões. Mas nenhum deles parecia riscar as respostas com
tanto fervor quanto certa garota de marias-chiquinhas.
Ágata era a personificação da
concentração. Os óculos garrafais escorregando para a ponta do nariz, a mão que
escreve movendo-se sob incrível velocidade, parando apenas para molhar a caneta
no nanquim. As sobrancelhas vincadas e
gotículas de suor brotando da testa. Era uma corrida contra o tempo.
Porém, quem observasse com maior
atenção perceberia que a menina possuía duas folhas em sua mesa. Na verdade,
sua prova já estava totalmente preenchida. O pedaço de papel em que escrevia pertencia
ao garoto ao lado que nada fazia além de tentar admirar seu reflexo no pote de
nanquim. Ágata chamava sua atitude de “o mínimo que uma amiga poderia fazer”. É
claro que o único que se beneficiava de tal generosidade era Nando, seu melhor
amigo. Pronto, prova encerrada. Conseguiu colocar o último ponto e passar a
prova para o garoto bem na hora em que o professor começou a percorrer sua
fileira.
- Você é a melhor, Ágata! –
sorriu Nando, dando uma puxadinha de leve em uma de suas marias-chiquinhas. – O
que seria da minha inteligência excepcional sem você para fazê-la brilhar?
Ágata nada respondeu, apenas
sorriu, sem graça. Sempre que Nando piscava, perdia as palavras. Estavam quase
deixando o salão quando um grupo de garotos passou correndo, esbarrando nela
propositalmente.
- Ágata feiosa!
Enquanto abaixava para recolher
os livros derrubados, olhou de esguelha para o amigo, esperando algum tipo de
defesa. Mas o garoto parecia nem ter percebido o ocorrido. Observava seu
reflexo nas paredes de mármore para ajeitar o colarinho da blusa. Tudo bem, ele
ficava tão lindo naquele uniforme, mesmo!
Já no pátio, cruzaram com um
grupinho de garotas do primeiro ano.
- Olá, meninas! – piscou o
garoto, provocando risinhos - Teresinha, você está particularmente linda
hoje!
- É Teresa, Nando! – respondeu,
debochada. Mas o garoto já estava cumprimentando outro grupo de meninas.
- Sabe,
Nando? – começou Ágata, quase inaudivelmente – Você nunca disse que eu estava
linda... Nando? Estou falando com você!
- Oras, Ágata, você sabe que é
uma gracinha! – sorriu, puxando de leve sua maria-chiquinha. – Ei, Alice! Sabia
que seu cabelo está esplendorosamente maravilhoso?
- Gracinha... sei... – repetiu,
cabisbaixa – Sabe,Nando? Você já parou para pensar que esse é o nosso último
ano no colégio?
- Claro, querida! Só penso nisso
ultimamente. Meu Deus! Como você emagreceu, Cecília!
- Sabe... eu vou sentir falta da
escola, você não? Das aulas, dos professores... de você.
- Claro, claro, também vou sentir
sua falta, florzinha. Lizandra! Que sapatos lustrosos!
- Eu estava pensando... sobre o
baile de despedida...
- Oh, o baile! Pelas minhas abotoadeiras,
bem lembrado, Ágata! – pela primeira vez pareceu ter voltado a atenção
exclusivamente para a garota - Preciso mesmo falar sobre isso com você depois
da aula! Você teria um tempinho?
- D-depois da aula? Bem, eu tenho
que terminar sua lição de matemática, mas...
- Ah, eu sabia que você
arranjaria uma horinha para mim! Você é demais!
Ágata não podia acreditar em seus
próprios ouvidos. Então, naquela noite, Nando a convidaria para o Baile de Despedida?
Finalmente poderia confessar seu amor por ele! Mal teve tempo de digerir a
notícia quando tropeçou em um par de pernas estrategicamente posicionado à sua
frente. Seu tombo despertou a risada de um grupo de alunos do fundamental. Nando,
porém, continuou caminhando, inabalável.
- Ei, fofinha, será que você
poderia se apressar? Preciso que você me ajude com uma redação antes da próxima
aula!
. . .
continua...
.
ResponderExcluirMas se fosse um de arros, eu
gostaria de ser um de feijão;
No meu blog eu abro o verbo
e falo do crime virtual de
que fui vítima.
Hoje, na minha página.
Espero você, lá.
Um beijo,
silvioafonso
.
Quando você vai postar a continuação?? Está muito bom!!
ResponderExcluirBeijinhos ;)
Ann
http://www.vinteepoucos.com.br/
Obrigada, Ann! ^^
ResponderExcluirMorri de curiosidade *o* Que escrita perfeita Beatriz, preciso ser assim auhssuha
ResponderExcluirObrigada, Jessica! Mas imagina, ainda estou muito longe da perfeição, haha. Mas obrigada mesmo *-*
ResponderExcluir