IV
CARRO,
PALPAÇÃO RETAL, CONEXÕES
O carro da Bia era um Uno Mille
vermelho sujo de barro seco de cima até embaixo. Claro, o carro de uma
estudante de agrárias. André ainda se lembrava de todas aquelas histórias sobre
aulas de campo no meio do nada, estradas poeirentas e galochas desconfortáveis. Nada superava o
desconforto, entretanto, de ter que enfiar a mão no reto de um animal fedorento
e furioso e depois voltar para casa com estrume no cabelo. Ou pelo menos era o
que Bia dizia. Aquelas luvas nunca pareciam tão impermeáveis quanto prometiam
na embalagem.
- Quem vai na frente? – Klayton
perguntou, apesar de já ter aberto a porta do passageiro.
- O Andy, né. – respondeu Débora,
dispensando a interrogação que a sentença requeriria.
- Não, deixa o André ir atrás. –
falou Bia, fechando o porta-malas. – Assim vocês podem ir conversando de boa. O Creito já está acostumado a
vir comigo.
E assim foi feito. André montou no
banco de trás – e montou é a palavra certa, levando-se em conta o seu cuidado
de não sujar de terra a única calça jeans que trouxera consigo – junto com
Débora, enquanto Klayton ocupava seu costumeiro lugar de co-piloto, parecendo
muito satisfeito ao fazê-lo. Klayton, assim como Bia, morava em Jaboticabal
como estudante e cursava medicina veterinária na UNESP. Inicialmente, os dois
eram da mesma turma, mas Klayton acabou reprovando alguns semestres. Tudo o que
André sabia é que o rapaz era muito inteligente e possuía um raciocínio
lógico-matemático impressionante – claro, o estereótipo do japonês precisava
ser mantido de alguma forma -, mas tinha certa dificuldade em lidar com...
pressão. Seja lá o que isso significasse. Não se fala muito sobre os fracassos
acadêmicos de um amigo virtual quando se pode elogiar suas habilidades
sobre-humanas com video game. Bia,
por outro lado, nunca havia tido problemas em compartilhar informações pessoais
sobre seus amigos uns com os outros, o que possibilitou a formação de sua
curiosa rede de amizades. Para falar a verdade, Bia parecia adorar
“compartilhar amigos”.
- André, você já jantou? – Bia
perguntou.
- Não. – ele respondeu, não sem
antes refletir sobre as consequências dessa resposta. – Mas não estou com fome.
- É, mas nós estamos. O que você
quer comer?
- Espera, vocês estão sem comer até
agora?!
- Eu falei que ele não ia querer
comer... – Débora resmungou.
- Não, você falou que ele já ia ter
comido. – Bia respondeu.
- Não, sério, por que vocês ainda não
jantaram?!
- A gente estava te esperando,
óbvio! – Bia tirava os olhos perigosamente da direção. – Vai, escolhe logo,
antes que a gente se afaste muito do centro da cidade.
- É quase meia-noite!
- Foi o que eu disse. – Débora
continuou resmungando, parecendo mais propensa a culpá-lo pela demora do que
partindo em sua defesa. - “Ele vai chegar depois das onze e meia, a gente vai
ficar sem comer até lá?!”, mas ninguém me escuta.
- Já sei! Vamos comer no McDonalds! – Bia sugeriu, finalmente.
- É. Quase. Meia. Noite.
- Você não tinha dito que o McDonalds daqui não é 24 horas? – Débora
perguntou.
- E não é. Creito, pega meu celular
e liga para a Tilápia, por favor.
Aparentemente, ter apelidos
ridículos não era privilégio dos amigos da Beatriz. Aquela era uma tradição
seguida por todos os habitantes de Jaboticabal que tivessem alguma ligação com
a universidade. E, aparentemente, a tal de Tilápia, além de ser amiga da Bia e
ter um apelido ridículo, também era namorada do gerente do McDonalds Jaboticabal, recém-inaugurado havia cerca de dois meses.
E, aparentemente, era costume no interior prolongar o horário de fechamento de
um estabelecimento comercial ao bel prazer dos frequentadores, desde que os
funcionários estivessem de acordo em ficar mais algumas horinhas jogando
conversa fora e consumindo bebidas alcóolicas.
- Beleza, ainda tem gente lá! – Bia
comemorou. – E é gente que eu conheço! Que bom, vocês vão poder conhecer meus
amigos antes do que eu imaginava!
"CARRO, PALPAÇÃO RETAL, CONEXÕES" Melhor título já criado
ResponderExcluir"o rapaz era muito inteligente e possuía um raciocínio lógico-matemático impressionante – claro, o estereótipo do japonês precisava ser mantido de alguma forma" UASUASHUAHS eu to me divertindo tanto com esses comentários que vc não tem noção
"Bia parecia adorar “compartilhar amigos”." - Já sei! Vamos comer no McDonalds! – Bia sugeriu, finalmente." Acho que somos mesmo mais parecidass do que eu penso UAHSUHASUHAUAHs
"- Eu falei que ele não ia querer comer... – Débora resmungou" "- Foi o que eu disse. – Débora continuou resmungando, parecendo mais propensa a culpá-lo pela demora do que partindo em sua defesa. - “Ele vai chegar depois das onze e meia, a gente vai ficar sem comer até lá?!”, mas ninguém me escuta." A Débora me lembra tanto uma amiga minha UHASUHAs é até engraçado, porque eu imagino essa amiga falando ao invés de pensar em uma personagem, de fato.
AHSUHASUHAS Confesso que eu ri muito dessas piadinhas com japonês, principalmente porque eu sempre as odiei, mas acabei descobrindo que é bem divertido fazê-las hihi
ExcluirEstá meio monótono agora, mas se eu conseguir levar a cabo, a história vai tomar um rumo completamente diferente!
Ah, só pra lembrar que o que acontecer aí é apenas baseado em fatos reais, etc, tô fazendo bastante uso de "licença poética" rsrs